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Em entrevista, diretor-executivo do Instituto Rever reflete sobre os maiores desafios da logística reversa no Brasil

Fernando Rodrigues  explica os benefícios da logística reversa para o meio ambiente, e como o setor empresarial deve se engajar nesta causa.



Os cuidados com o meio ambiente estão cada vez mais presentes nas pautas de políticas públicas, e não poderia ficar de fora das preocupações do meio corporativo também. Iniciativas ESG propõem que as empresas se tornem cada vez mais alinhadas com as necessidades de inclusão social, governança responsável, e cuidados com as questões ambientais. Umas das alternativas que podem ser aplicadas é a de logística reversa, proposta pelo Instituto Rever, um parceiro da Ápice.


A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social, que viabiliza a coleta de resíduos sólidos do setor empresarial, para reaproveitamento ou outra destinação final ambientalmente adequada. Ela gera também empregos para centenas de pessoas que fazem a coleta de diversos materiais, como como lâmpadas, pneus, medicamentos, óleo e pilhas, bem como para produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e embalagens.


Para entender melhor sobre o assunto, e seus desafios no Brasil, a ÁPICE convidou Fernando Rodrigues, diretor executivo do Instituto Rever, para uma conversa. Confira abaixo a entrevista na íntegra. 


Qual é o papel do Instituto Rever na cadeia de logística reversa?


O Instituto Rever é uma associação sem fins lucrativos, com atuação no âmbito nacional e foco na logística reversa das embalagens em geral. Trata-se de uma entidade gestora que atende ao que preconiza o Decreto Federal nº 11.044, de 13 de abril de 2022. Ele 

é administrado por entidades representativas com a finalidade de estruturar, implementar e operacionalizar o sistema de logística reversa de embalagens em modelo coletivo. Além disso, o Instituto Rever está devidamente cadastrado no Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir) e autorizado a emitir o Certificado de Crédito de Reciclagem, Recicla+.


Destaca-se que, de acordo com o referido decreto, somente entidades gestoras estão aptas a emitir o certificado de crédito de reciclagem para fins de comprovação de logística reversa. 


Qual é a importância das entidades setoriais dentro desta cadeia?


Quando se fala em logística reversa, a participação de entidades setoriais que representam os fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes é essencial. Isso se dá devido à representatividade proporcionada por tais entidades, bem como, pelo número de empresas por elas abarcadas. Através da participação das entidades setoriais nas entidades gestoras, por exemplo, há o fortalecimento daquele sistema de logística reversa, tornando-o mais representativo em números e importância. 


Qual é o papel da iniciativa privada e a pública dentro do processo de logística reversa? 


O papel do setor empresarial é estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos/embalagens após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. Assim, cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes comprovarem que determinada massa de produtos ou embalagens colocada no mercado foi restituída ao setor empresarial, para reaproveitamento, ou teve outra destinação final ambientalmente adequada. Ressaltando que o setor de reciclagem no Brasil ainda necessita de investimentos para seu desenvolvimento.


O sistema de compensação ambiental pela comercialização dos certificados de créditos de reciclagem, por exemplo, consiste na remuneração direta de organizações de coleta e triagem de material reciclável (cooperativas e operadores privados homologados), dado que emitam notas fiscais de compra e venda de material para indústrias recicladoras e/ou transformadoras. Dessa forma, esses operadores recebem a receita acessória da comercialização dos créditos, possibilitando que haja investimentos na melhoria de sua capacidade de coleta, triagem, entre outros. Já o poder público tem o papel de viabilizar a implantação de programas e sistemas de logística reversa de forma que essa cadeia seja desenvolvida. Isso pode se dar através de regulamentos ou Termos de Compromissos e Acordos Setoriais firmados com o setor privado. Além disso, também é papel do poder público realizar a fiscalização, através do acompanhamento da implantação dos sistemas de logística reversa bem como dos resultados por eles apresentados. 


Quais são as principais dificuldades de implementação da logística reversa no Brasil? 


É possível destacar as dimensões continentais do país, bem como os desafios na área de infraestrutura, que acabam encarecendo o processo de retorno dos produtos e embalagens sujeitos à logística reversa. 


Outro ponto é que alguns estados no Brasil não possuem uma cadeia estruturada de reciclagem para determinados materiais. Isto acontece com o vidro, principalmente nos estados do norte e nordeste, por exemplo. Não encontramos recicladores de todos os tipos de material em todas as regiões do país, o que demanda maiores investimentos para o desenvolvimento da cadeia daquele material em determinada região.


Quando se trata de embalagens, precisa ser interessante e viável economicamente a coleta dos materiais para sua comercialização como reciclável. Quando não há recicladores próximos ao local de coleta, o custo logístico muitas vezes não compensa a operação e aí entra a necessidade de aportar uma receita acessória aos operadores, viabilizando o processo. Além disso, cabe destacar que o mercado da reciclagem ainda é muito informal em nosso país, o que dificulta a estruturação de projetos, o controle de escala e previsibilidade de materiais, dentre outros pontos. 


É possível criar uma cadeia 100% sustentável de produção e reutilização de resíduos? Como?


Essa resposta depende muito do setor que está sendo considerado, já que os processos de produção e destinação, evidentemente, variam de produto para produto. Em todo caso, alguns setores já conseguem sim ter um melhor uso dos recursos, com a aplicação de novos modelos de negócios, bem como, com a otimização de seus processos. É dentro deste cenário que surge a economia circular, forma de repensarmos o modelo de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais, tudo isso sem comprometer as necessidades das gerações futuras.

 

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